quarta-feira, novembro 11, 2020

Angela Scott Bueno Compartilhado com Público Meu bem não pira, a ideia é essa, é tratamento de choque, a gente já sabia que ia ser assim, vamos sair para tomar um café, vamos ver o mar, vamos escutar a chuva, vamos sentar na floresta e rir das coisas que só a gente sabe, vamos ao cinema, ficar no escuro, no ar condicionado. Vamos sair para andar, só andar pela cidade, vamos dançar, vamos ver a rua, aqueles lugares antigos, vamos conversar sobre os livros que eu ainda não li, descobrir fotógrafos novos, não entra na angústia, não fica aí, atado nesses jogos de poder, vamos pra cozinha, aprendi a fazer aquela massa de pastel no ponto certo da água e da farinha. É lua cheia, vou te contar do tombo que eu levei na calçada da avenida Nazaré, 'tou toda roxa mas a gente vai rir à beça. Mercúrio está retrógrado, a América Latina se desmancha em sangue e lágrimas, nada será mais como antes mas não se culpe, não sucumba a ideia, vamos tomar um milk shake vegan, delícia, vamos mochilar o Piauí, se mantém em movimento, olha tudo isso com coragem porque vc sabe, a gente já passou por poucas e boas, vamos ajudar os meninos, eu tô indo pra Fortaleza, pra Salvador, pra Belo Horizonte, pra Brasília, pra São Paulo, wateva, viver é a melhor das resistências. Vamos encontrar na mureta da Urca, tomar uma caipirinha, ver o pôr do sol, ver as estrelas, ficar de bobeira no Museu, as gaivotas passam por baixo da Ponte Rio-Niterói. Vamos fotografar Paquetá, subir o morro, encontrar velhos amigos, não pira. Eu 'tou aqui. 'Tá no singular mas é pra geral. Quando a gente fica na angústia, com tanta tragédia, entra na vibe, perde o fio, a consciência se escurece e a gente não vê saída. A idéia é essa. É fácil escravizar quem não tem prazer.

sexta-feira, agosto 21, 2020

J'aime j'aime







das letras que parece que fui eu que escrevi.
eu acho que a gente devia ir para lanzarote, passar uma temporada. a gente precisa desse espaço, a janela da casa pequena dá para o oceano, tem silêncio e ventos, a gente precisa desse tempo interno num lugar fora do mundo. a gente precisa estar juntos para as coisas voltarem para o lugar certo. a gente precisa ir agora,juntos, em pensamento. nosssa alma em comum. lá ninguém nem nada nos alcança, pasárgada, atlântida. depois de muito, muito tempo, tive um sonho lindo.

quinta-feira, julho 30, 2020

Doisneau.
diário. é uma delícia andar na garoa paulista pois parece andar em nuvem mas, ao contrário, são sombrios os dias nublados em são paulo. lembro de fred, um amigo, falando de meses e meses de dias escuros e nuvens de chumbo em amstelveen, sua pequena cidade; tento dimensionar, afinal é só um dia nublado em são paulo, uma mega cidade num país tropical. mas minha alma carioca pesa. tem dias que mesmo com toda a consciência que traz a idade, mesmo com o olhar ingênuo sobre a vida que a gente adquire, ao sobreviver a ela, mesmo sabendo como administrar derrotas, traições, rejeições, sem perder a ternura, mesmo quando a vida ensina a contabilizar ganhos e não as perdas, quando ela pede coragem e vc acha que correspondeu porque afinal, continua por aqui, com essa espécie de entusiasmo, uma coisa que não se apaga, ainda. então não está mal. mas tem dias que mesmo assim, mesmo com todo o tempo de vida, de chegar a um convívio pacífico com os mistérios misteriosos do mundo, mesmo com toda a fama com toda a brahma, com toda a cama, com toda a lama que a gente vai levando, mesmo com todo o floral, tem dias como o de hoje que eu só queria me sentir protegida em alguém novamente e ser tudo para uma pessoa. hoje estou como são paulo, nublada, num silêncio de faltas. quem brilha pra você?

terça-feira, julho 07, 2020

Existem ligações invisíveis entre pessoas que uma vez construídas elas não se desfazem, sempre lembraremos delas num momento importante, num turning point. Nem sempre tem a ver com laços de parentesco ou amizade, pode até ser que a pessoa que mudou seu rumo, você sequer conheça, oficialmente. Pode ser que sejam pessoas que se encontrem uma única vez, num acontecimento fortuito. Alguém que pediu um cigarro na rua e houve uma troca de olhares - você tem um cigarro? Eu não fumo. E entre estas duas frases, houve uma revelação. Alguém que sentou no mesmo banco de praia que você. Você e aquela pessoa desconhecida, ficaram um tempo olhando o mar, cada uma a seu modo e então ela abriu a bolsa e tirou um livro e era o mesmo livro que mudou sua vida, tempos atrás. Você vê o livro e lembra de ter decidido como queria viver. Ver o livro deu a dimensão do quão distante você foi parar desse desejo. E então, decide voltar. Alguém que olhou para a lua na mesma hora que você. Traçou o mesmo movimento no espaço e no tempo: olhou para o céu e então para a lua, a enorme lua de morango e ato contínuo, olhou aleatoriamente para um lado e, ali estava você. Que olhou para o céu e então para a lua, a enorme lua de morango e ato contínuo, olhou aleatoriamente para um lado e, ali estava o outro. Ali se construiu uma ponte entre lua e humanos e entre humanos e suas existências. Sua vida e a vida daquela pessoa foram transformadas por uma sutil sincronia. Um segundo e a vida te deu a dimensão exata do lugar que ocupa nela. Você afinal é essa pessoa e apenas o que é belo para você - e não importa mais se alguém entenderá, aceitará ou reconhecerá -, é que vai guiar a sua vida. Você não pode mais escapar da sua beleza, da sua lua no céu. Tenho essa fantasia de ter certeza - essa é a fantasia, a certeza, de que nós nunca saberemos quem é que realmente muda o nosso destino. Aparentemente pode ser um grande amor ou a maldade de uma mãe, uma viagem ou a doença de um filho mas aposto mais nesses momentos aonde um humano olha para outro humano, sem defesas, sem resistência, sem expectativas. Seremos apenas corpos de afetos, pegos desprevenidos, vivendo um momento grandioso, numa situação banal. A pessoa que me pediu um cigarro, ao nos olharmos, por imponderável, fez com que eu tivesse contato e afirmasse tudo o que é meu. Um livro MFK Fisher, a forma de ver o mundo de Wyslawa, a voz de Miles, os quadros de Ortner, o vento e as nuvens, não uma arvore mas as pedras, o licor e não o vinho, os pássaros, as baleias, os sonhos de madrepérola, a medida exata do meu desejo. Tudo isso me pertence e eu pertenço a eles e, ao virar a direita na esquina e não a esquerda e encontrar o homem que me pediu o cigarro, de quem eu jamais saberei dos afetos, tive os meus devolvidos quando, sem aviso nós dois humanos nos reconhecemos claramente. A grande ilusão é achar que nós nos criamos sozinhos e somos independentes, a gente só se revela e só se conhece através do outro. E na mágica desse caldo de acasos que é a existência. 7 de julho de 2016, publicado ás 16:16. Está no Facebook. Eu ainda acredito.

quarta-feira, julho 01, 2020

Te desafio a ficar parado(a) :) Etta James Lauryn Hill mashup ft. Maiya Sykes & Ben Folds. dance comigo que a gente está precisando de movimento.

terça-feira, junho 23, 2020


Marina Lima (Para um Amor No Recife)

acordei com essa música na cabeça. dia inteiro chiclete .."que eu voltarei depressa, tão logo a noite acabe,, tão logo esse tempo passe, para beijar você. que eu voltarei, que eu voltarei depressa...." tempos de isolamento e pandemia, e mesmo tempos de gente rodeada de gente mas se sentindo sozinha por não estar com quem queria, esperando que tudo passe, como naquele banner, contando os dias sem saber quantos dias faltam. o titulo da música é "para um amor no recife" mas será para um amor de qualquer lugar. e no video, as imagens de um Rio que não existe mais. mas o amor ainda existe. #café



domingo, junho 21, 2020

domingo. ás vezes me dá uma saudade de casa. nessa busca por fotos para o livro, encontro fotos de 2016, fotos aleatórias, avulsas, são de quatro anos atrás mas que já parecem tão antigas. parecem de outra vida, uma outra pessoa que eu fui. agora eu sou ela e mais uma que, durante um tempo, ficamos sobrepostas, desdobradas uma em outra, mescladas e então nos fundimos, essa junção que sou agora, que sempre abraça essa angela distante, trago para perto, a mãe, a dona de casa, a vizinha, a que ia ficar para sempre olhando a vida pela janela, já não tinha mais tempo, aos 58 anos. publico no instagram, as fotos que achei, faço borda de fotografias da kodak. minha janela, minha mão gordinha sobre a colcha preferida,o anel que hoje cai do dedo. dos meus objetos de afeto, a caixinha coração em papier marchê. das fotos, a colcha já não existe mais, o coração está no guarda-móveis dentro dele guardo anéis, uma tornozeleira e um monóculo com foto de infância que, um dia, espero rever em cima de algum outro móvel novo, ao lado de uma janela ao sol da tarde que é quando bate essa luz. a janela, quando a chuva batia de frente e eu ficava ouvindo o barulho em paz, emocionada, mirando o morro e sua floresta, eu sei que nunca mais.
eclipse, 2020. image: reuters

terça-feira, junho 16, 2020

eu tinha uma história de anjo pra contar.

chris went

try to have fun. as energias andam pesadas e baixas, low vibration. acho que peguei um veio gringo na noosfera, porque durmo pensando numa questão e acordo do sonho ouvindo uma voz falando comigo em inglês. algum caboclo americano. quem sabe é meu pai? scott morreu deixando coisas por dizer. ando meio drenada de energia, são os tempos, a gente se cansa fácil, difícil respirar, fica confusa por tanta interferência do meio ambiente que está caótico. se eu facilito entro num modo muito sério, plutoniano, i have a happy personality with a heavy soul. ontem mesmo me debatia com uma questão que se arrasta e que vai ficando cada vez mais sofrida então hoje acordei ouvindo assim, relax, go with the flow, try do have fun. eu comecei a rir, óbvio. comecei a perceber que ando complicando coisas que deveriam ser simples. coisas prazerosas que viram motivo de angústia viram compromisso, no mau sentido. "simplify, then add lightness." era pra carro mas serve pra tudo. Então hoje de manhã peguei o mapa e fui viajar, ver aonde quero ir ter momentos felizes. eu vou bem sozinha, sempre soube quea minha tribo é bem pequena mas quero minha familia de alma comigo, tenho tido essas sensações, de um tempo pra cá, aproximações. que sejam bem-vindos, os companheiros, as amizade generosas desse último ciclo da vida. mas esse é outro assunto.


a vida é isso mesmo, ela dói. as vezes eu quero escapar, as vezes a gente escapa. Vezes em que o sentimento é tão intenso que eu vou no sentido contrário, me afasto, bloqueio. Mas não adianta porque a vida está aí, ela chama de volta e continua. em algum momento  vou ter que encarar, ninguém consegue ser infeliz por muito tempo, o coração fica batendo, batendo, ele avisa, mesmo que voce tenha enterrado o pobre embaixo de toneladas de concreto. voce sabe que ele está ali, e se eu não ouvir,  morro, já aprendi o que é morrer em vida, não me escutando, não ouvindo meus próprios passos, vivendo a vida dos outros, o sonhos dos outros,  tem horas que a gente não cabe mais no lugar. difícil se despedir de onde foi feliz, se sentiu segura, difícil se despedir do que um dia foi o amor completo, a razão da vida, e a gente queria continuar mas já não cabe. Eu olhei em volta e era tudo  tão familiar e bom.  mas já não serve, é estagnante, é armadilha, é opressão, é só espera vã. È como quando a gente é criança e cresce e a roupa já não cabe, tive um vestido aos nove anos, era um tubinho rosa, de casinha de abelha e um laço de seda, lembro hoje, lembro sempre, um dia não me cabia mais, não entrava, não fechava, eu tinha crescido, chorei, chorei, depois segui vida, acho que sou assim desde menina,  quero ficar mas a vida me leva. é para um lugar melhor depois, é para ser mais feliz, é para cumprir destino, evoluir, amar mais profundamente,  fazer mais sentido, cumprir os ciclos, as fases, sentir que está vivendo de  verdade, e a paz que isso traz no final, no novo fim, no novo começo, na plena certeza do continuar daqui, Mas a vida dói,  mesmo nos dias mais felizes, mesmo quando é seguro, mesmo quando é encontro. Então aceita que dói menos. 

terça-feira, junho 09, 2020

vidro e lágrimas.
diário. estou aprendendo a fazer narrativas. na verdade, esse é o nome novo para uma coisa que a gente fazia antes. narrativas não sei o quê poéticas, imagéticas, etnográficas, autopoesis, enfim, a gente aprende a contar uma história que até então parecia só um monte de imagens estanques, é divertido. acho que era o que fazia no fotógrafos brasileiros já, sem saber, o encadeamento das imagens e tal, daí que comecei a ver as fotos que fiz ao longo desse tempo de viagem e tem sim um monte de história pra contar através das imagens e eu não me dava conta, na verdade nunca foi intencional, mas olhando o bojo fica claro desde quando fotografei as tres torres que apareciam no morro em frente a minha janela por dez anos, sem saber. fotografei aeroportos,hoje mesmo publiquei no instagram uma que significa mais pra mim em termos de despedida do que todas as outras, quase não se vê imagem, mas o sentimento que tem ali, pra mim é mais do que em qualquer outra foto, porque agora é isso o sentimento, antes jamais publicaria uma foto assim, fotografei rodoviárias, fotos fora de foco, fotos tremidas, através da janelas dos onibus, as paisagens passando velozes, nunca nem mostraria e agora é parte principal do meu trabalho do livro. não sabia que tenho atração por folhas na calçada, montes de fotos, lugares diferentes, folhas pelo chão em são paulo, natal, belém, rio, joão pessoa, salvador. fotografei gente sozinha em todas as partes do brasil, não sozinha desvalida, sozinha nas cenas, nas paisagens, tem muita gente sozinha nas minhas fotos.'e tem uma sensação de hiato, de tempo em suspensão mesmo, de tempo imaginado, de tempo imaginário :) enfim, ter que fazer esse livro, que eu acho que não vou conseguir a tempo, porque cada hora eu vou por um caminho diferente e ainda não consegui chegar numa fio condutor, mas o mais importante no momento é que essa pesquisa em cima das minhas fotos estão mostrando um caminho de volta pra mim mesma, em algumas áreas esquecidas, algumas que eu nem sabia que eu existia dessa forma, quanto de gostoso é isso? poder se rever. se ver com outros olhos, e tomar outras direções. quando voltei a circular pelo mundo da fotografia eu tinha esse hiato de 30 anos. custei a entender e principalmente a aceitar que agora era tudo ao contrário do que tinha aprendido, ficava chocada quando mostrava o que entendia por narrativa e me cobravam minha subjetividade na pauta. como assim, é pauta, que mané subjetividade na pauta, feio e errado. e agora faz parte, e essa aproximação da fotografia como plataforma de arte, fiquei de cara, que mané artista visual gente, e tudo o que era reprovável agora era o super legal de fazer. e na verdade é mesmo o super legal de fazer, a gente que era engessada, vivia num quadrado que era ser fiel a realidade e essa realidade na verdade nunca existiu. hoje não tem mais limite os por outra, não existe mais fronteira. e hoje sei que tudo que neguei ou discordei quando voltei a tratar com fotografia, agora no seculo 21, ironicamente se tivesse ainda continuado no meio de fotografia é quase certo que eu ia por esse caminho mesmo, usar a plataforma , fotografia, para me aproximar da arte. estou pirando nas fotos, está muito divertido. e rico, nao quero mais me afastar desse, pode chamar de, fazer artístico? acho que vou fazer muitos livrinhos daqui por diante, como um hobbie, quero ficar pra sempre. se eu vou resolver bem, aí já é outra história. #lovemylifemode